Ele possuía próteses no lugar de pernas. E ainda assim corria maratonas todos os anos. Era um bom atleta. Porém, certa vez, a prótese quebrou-se ao meio durante uma corrida, perto da linha de chegada, fazendo-o perder uma prova quase certa. Quem diria: a perna o havia deixado na mão. Seria ele um verdadeiro pé frio?
O jeito era relaxar, comer um pé de moleque e talvez, quem sabe, dançar um pouco. Ouvira dizer que ele era um dos melhores pé de valsa da cidade. Outros, porém, me diziam que ele não passava de um pé rapado. Na dúvida, fiquei com um pé atrás. Afinal de contas, não dá para levar tudo o que dizem ao pé da letra. Mas amanhã será um novo dia e, na próxima corrida, que ele comece com o pé direito.
Toda essa história, sem pé nem cabeça, me foi contada ao pé do ouvido por uma senhora que conheci no metrô. Estava de pé, e ela, sentada. Ao abaixar-me para conversarmos pude reparar nos pés de galinha que marcavam fortemente seu já bem usado rosto. Que seja tudo verdade, pois contar mentiras é dar tiro no próprio pé. Como diz o ditado: mentira tem perna curta.
Contou-me também que era atriz. "De cinema?", perguntei. "Não, de teatro", esclareceu-me. Inclusive, estava a caminho da sala de espetáculos. Apresentaria-se dentro de pouco tempo numa readaptação de Footloose. "Pois então quebre a perna", respondi, desejando-lhe sorte. Ela sorriu e me agradeceu pelos votos de sucesso. Em retribuição, me deu um pé de coelho para me proteger. Despedimo-nos e fui para casa.
No caminho resolvi passar no supermercado. Não sei por que, mas estava com uma vontade louca de comprar um pé de alface. No caixa, reparei numa mulher grávida que encontrava dificuldades em embrulhar suas compras. Ela me viu e pediu ajuda. Fingi que não a vi fui embora dando uma de João sem braço.
Ao chegar em casa não encontrei ninguém. Vi um recado de minha esposa no criado-mudo: “Querido, fui embora”. Meu Deus, ela pôs o pé na estrada! O jeito era apertar os passos e descobrir para onde ela havia ido. Bati o pé decidido que iria encontrá-la, seja onde for que ela estivesse. Nem que precisasse ir a todos os hotéis do Estado, arrombando quarto por quarto com um pé de cabra. Na ânsia, fui atropelado. O final de tudo não foi dos melhores: bati as botas.
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