29 de outubro de 2007

Cultura a cada estação

CULTURA A CADA ESTAÇÃO
Metrô de São Paulo leva arte e cultura para os diversos cantos da cidade

Alexandre Azzene e Renato Santana

O Metrô é uma das instituições públicas que mais goza de prestígio junto à população paulistana. Para melhorar o relacionamento com seus usuários e visitantes, escolheu como melhores instrumentos as artes e a cultura, no seu sentido mais amplo.

Atualmente, 30 estações recebem o total de 84 obras de artes de 58 artistas plásticos brasileiros, entre eles: Alex Flemming, Tomie Otake, José Roberto Aguilar e Cláudio Tozzi. São esculturas, painéis, instalações e pinturas que colorem o trajeto dos milhões de passageiros e humanizam esse meio de transporte, quebrando um pouco da sua frieza. Hoje, quando uma estação é projetada, já se prevê o lugar para obras artísticas.

Mas além do acervo permanente, o Metrô ainda possui vários outros mecanismos de promoção da arte. Um bom exemplo são as exposições, espalhadas por estações de todas as linhas. É possível apreciar o trabalho de artistas desconhecidos, assim como de famosos também. Dia 28 de maio, por exemplo, na estação Paraíso, o repórter Maurício Kubrusly promoverá um bate-papo sobre o seu livro, Me Leva Brasil. A programação completa dos eventos do Metrô pode ser conferida em seu próprio site.

“Qualquer pessoa pode enviar uma proposta ao Metrô desde que o projeto seja bem estruturado e adequado. Para ser democrático pedimos aos interessados que acessem o site www.metro.sp.gov.br entre no link Cultura, e Como Expor No Metrô. Assim o interessado conhece o regulamento e ele mesmo avalia se o projeto é adequado”, explica Ingrid Campos, Coordenadora de Ação Cultural do Metrô.

Ao lado do Projeto Arte no Metrô (acervo de obras permanentes) foi instituído o Projeto Ação Cultural, que caracteriza-se por ações continuadas de cunho artístico-cultural que têm por objetivo agregar qualidade ao relacionamento da instituição com seus usuários e à vida cultural da cidade. Aliás, ele retrata bem como o Metrô é bem-sucedido nas suas investidas de relacionamento com a população, pois usa bem o fato de ser um local de fácil acesso, e ponto de encontro de grande parcela dos cidadãos de São Paulo. Aproximadamente, 3 milhões de pessoas passam pelo Metrô diariamente.

Mas se você acha que todas essas ações já são o bastante, você se engana. Voltadas para o aspecto cultural, desde 2004, as Bibliotecas Embarque na Leitura objetivam estimular o hábito da leitura nos usuários do Metrô. Localizadas nas estações Luz, Paraíso e Sé, elas contam com um acervo de mais de quinze mil títulos. Para alugar os livros é preciso fazer um cadastro mediante apresentação de RG, CPF e comprovantes de residência (originais e uma cópia simples), além de uma foto 3x4. Segundo Ingrid, há projetos para se aumentar o número dessas bibliotecas.

Todas essas ações são reconhecidas pelo público. “Alguns usuários se manifestam positivamente e outros negativamente (...), mas sempre com comentários interessantes. O mais importante é realmente despertar algum sentimento nas pessoas, provocar, mostrar arte”, conclui Ingrid. Com tudo isso o Metrô de São Paulo justifica sua imagem de qualidade e eficiência, construída ao longo de seus 33 anos de história.


Ainda na linha de estímulo à leitura, o Metrô possui 18 máquinas de vender livros, que propiciam aos passageiros adquirirem obras literárias e manuais técnicos a baixos preços. A idéia surgiu do empresário Fábio Bueno Netto, que inicialmente pretendia comercializar livros já sem custo de direitos autorais. O plano deu tão certo que várias pessoas procuram sua empresa para que disponibilizem determinado livro nas máquinas. Os livros mais vendidos são O Código Civil e o manual do Excel, programa para computador que cria planilhas eletrônicas.

Um idioma esquecido

Essa foi a primeira reportagem que eu escrevi como estudante de Jornalaismo, ainda no segundo semestre.

UM IDIOMA ESQUECIDO

Habeas corpus. A priori. A posteriori. Honoris causa. Vinculum juris. Persona grata. Secundum legem. In apicibus juris. Nemo judex sine lege. Damnum ex delicto.
Provavelmente, a maioria das pessoas não conhece o significado de boa parte das expressões acima. Alguns, talvez, nem saibam em que idioma elas estão. Para estes que não sabem, a resposta é: em latim.

Idioma oficial do antigo Império Romano, o latim nasceu na Itália e foi se disseminando por toda a Europa e parte da Ásia conforme os romanos dominavam outros povos. Logo no início da expansão do império, foi adotado pela Igreja Católica como dialeto oficial (e ainda o é, até hoje) e deu origem às chamadas línguas latinas como o português, o espanhol, o italiano e o francês. Após a queda do Império Romano, o latim, em sua forma original, foi abandonado.

Mesmo sendo uma língua quase morta, o latim ainda é muito utilizado no meio legal. Juristas, magistrados e advogados usam constantemente o latim para significar certas ações ou processos de cunho jurídico. Esse uso freqüente se deve ao fato de que o direito brasileiro é inspirado no direito romano, trazendo em suas raízes, portanto, parte de suas características. Todavia, apesar de ser aplicado em grande escala e de forma corriqueira na área jurídica, o idioma latino não é ensinado em praticamente nenhuma faculdade do país. Como pode, então, alguém falar de algo sem saber?

O Prof. Dr. Amador Paes de Almeida, coordenador do curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, esclarece: “(...) para se conhecer um instituto jurídico é imprescindível remontar-se à sua origem”, e explica que a disciplina de Direito Romano tem exatamente a função de fazer com que o aluno conheça as instituições romanas. Paes de Almeida não acha que seja necessário a criação de uma disciplina voltada exclusivamente ao estudo do latim, até mesmo por ele ser um idioma de difícil compreensão e de uso restrito nos dias atuais.
Já o professor Jeremias Alves Pereira Filho, professor de Direito Processual Civil Aplicado, acha que se torna mais fácil o entendimento das línguas latinas como o português (ferramenta crucial para a prática jurídica) quando se conhece a sua origem, mas acha “muito difícil” que o latim volte como disciplina individual em qualquer curso de Direito.

Ao serem perguntados, todos os alunos, sem exceção, desaprovaram um possível retorno do idioma como matéria obrigatória.

Entretanto, tanto o professor Jeremias como o professor Amador tiveram aulas de latim enquanto alunos, e hoje fazem parte do corpo docente de uma das mais tradicionais faculdades de direito do país. A escola com o melhor desempenho no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2006 ensina latim. Já há alguns anos, a reprovação nos testes da OAB (Organização dos Advogados do Brasil) é expressa em elevados números. Não estaria aí, portanto, uma lacuna vazia na formação técnica e humana dos discentes de Direito? Sem dúvida alguma que sim.

21 de outubro de 2007

O Mackenzie é esse

Como todos sabem, o Mackenzie é uma instituição confessional, ou seja, ele assume seu caráter religioso. Entretanto, ele não consegue impedir que, diariamente, milhares de seus alunos cometam, por todo o campus, os famosos sete pecados capitais. O I&D teve acesso exclusivo a um relatório enviado ao conselho diretivo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, no qual a universidade revela sua preocupação com seus jovens "infiéis". O relatório possui um total de 13 páginas. Veja abaixo alguns trechos:

CAPÍTULO 1: GULA
"Verificamos que, dentre todos os estabelecimentos resididos no Mackenzie, o de nome Benjamim Abrahão é o que mais apresenta riscos aos alunos. Por meio do uso de substâncias torpes, tais como pavês, trufas, sanduíches e croissants de frango com catupiry, queijo com presunto e o mais novo, peito de peru, a organização consegue atrair ao pecado praticamente todos os que por sua frente passam. Além do mais, as enormes filas formadas pelos infiéis, digo, alunos, atrapalham o bom fluxo na praça de alimentação. Medidas precisam ser tomadas o quanto antes."

CAPÍTULO 2: IRA
"Ao analisarmos o comportamento dos estudantes no campus, em sala de aula e nas demais instalações da universidade, percebemos que os mesmos, de maneira súbita, começam a entrar em um estado de raiva extrema. Esse comportamento se dá, principalmente, ao saírem do AFA (Atendimento Financeiro ao Aluno), da Secretaria Geral (quase sempre quando reclamam de faltas dadas injustamente) ou após as Vistas de Provas (nestes casos, o comportamento agressivo é somado à situações de comoção extrema). Ressaltamos que medidas precisam ser tomadas o quanto antes, pois alunos sob tais níveis de perturbação podem atrapalhar a boa espiritualidade da universidade e ficarem mais propensos a DP's ...e não é isso o que queremos."

CAPÍTULO 3: AVAREZA
"A avareza é um dos pecados mais frequentemente cometidos no ambiente de nossa universidade. Porém, surpreendemente, percebemos que o objeto principal de apego dos alunos não é o dinheiro - tendo em vista as enormes filas nos estabelecimentos da praça de alimentação e o valor das mensalidades -, mas, sim, os livros das bibliotecas. Chega a ser impressionante a afeição que os alunos demonstram, mantendo por tanto tempo os livros sob custódia. Por mais alta multa que isso resulte, eles não parecem se importar com o custo de seus atos. Alegrar-nos-ia muito saber que nossos discentes não se apegam ao dinheiro (que o Mackenzie tanto despreza), mas eles nada mais fazem do que trocar uma idolatria por outra. Além disso, notamos também que há o que denominamos de "avaros imateriais", aqueles alunos que, ao invés de mostrarem exacerbado apego a dado objeto, constroem uma forte relação de carinho com as disciplinas que cursam. Não sabemos ainda se eles são afeitos à matéria em sim ou ao professor que as ministra, todavia, ressaltamos que, o quanto antes, medidas sejam tomadas a respeito."

"PS: o pecado da avareza não se restringe apenas aos alunos. As lanchonetes da universidade, em especial a Boulevard, localizada no terceiro andar do prédio da Piauí, demonstram grande apego ao recheio de seus lanches. Informações mais detalhadas no próximo relatório."

CAPÍTULO 4: INVEJA
"Esse pecado, em particular, não se refere tanto aos alunos, mas, sim, mais aos professores. Notamos que determinados professores invejam o comportamento de certos alunos, passando a imitá-los em alguns sentidos. Talvez pelos alunos terem um limite de 25% das aulas as quais podem faltar, os professores parecem querer gozar do mesmo direito. Alguns, por iniciativa própria, inclusive, chegam a beirar o mesmo nível de ausências.”

“Outra comportamento suspeito, agora sim em relação aos alunos, é a freqüente reclamação que eles fazem ao preço das mensalidades. Após realizarmos uma ampla pesquisa, tanto qualitativa quanto quantitativa, seguindo as normas da ABNT, constatamos que, para os alunos, o preço ideal da mensalidade deveria ser reduzido, no mínimo, em 40%. Logo, concluímos (ainda conforme os métodos estabelecidos previamente) que esses mesmos alunos invejam demais alunos de outras instituições tais como UNICID, UNINOVE, UNIP, UNICEF, UNIBANCO e Unidos da Tijuca. Quase 80% deles revelaram que se transferiria para essas universidades caso elas também tivessem instalada em seus espaços físicos alguma unidade do Benjamim Abrahão. Não queremos ser repetitivos, mas repetimos que medidas precisam ser tomadas a respeito."

CAPÍTULO 5: SOBERBA
"A soberba é um dos pecados com menor ocorrência no Mackenzie. Entretanto, o exagero na ação dos outros compensa o desempenho modesto deste. Até agora, em nossas análises iniciais, notamos que os soberbos se concentram, em sua quase totalidade, entre os alunos de comunicação. Esses alunos costumam se gabar de freqüentarem um prédio isolado do campus - e que inclusive fala -, de pertencerem à faculdade com mais projetos de iniciação científica aprovados de toda a Universidade e, finalmente, por terem, logo na porta de suas instalações, o Dog do Kabelo, estabelecimento gastronômico de maior prestígio entre eles. Por mais orgulho que essa realidade possa causar, lembramos que a ostentação exagerada desses fatos pode ser prejudicial aos demais alunos, professores e funcionários da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Logo, damos a seguinte recomendação: tomem medidas o quanto antes!"

CAPÍTULO 6: PREGUIÇA
“É comum ver alunos não querendo ter aulas ou constantemente saindo delas antes de seu término. Pobres coitados. Além de se esforçarem para entender o que os professores ensinam, ainda são obrigados a agüentarem cinco horas diárias de intensas e desnecessárias aulas. Assim, uma das medidas que recomendamos que sejam tomadas é a diminuição da carga horária dos alunos para duas horas e meia diárias. Assim, eles terão mais tempo de se dedicarem aos estudos, já que essa é grande reclamação que tanto fazem. Por outro lado, notamos que os professores e coordenadores, esses sim, são isentos de qualquer vestígio de preguiça. O tempo, que quase sempre gira em torno de semanas em responder um único e-mail, ou ainda o prazo de oito ou dez dias para a impressão de um formulário ou atestado, deve-se exclusivamente ao fato deles despenderem todo esse tempo justamente para realizarem tais tarefas, já que estas são de grande complexidade."

"Observação: medidas precisam ser tomadas a respeito."

CAPÍTULO 7: LUXÚRIA
Apesar de ainda incipiente, o pecado da luxúria já começa a ser percebido em algumas localidades do campus. De acordo com nossas apurações, os diretórios acadêmicos são os principais incubadores de luxúria de toda a universidade, fazendo jus a essa nossa constatação por meio de suas inúmeras "festas". Para não cometermos nenhum tipo de difamação ou acusação gratuita, fomos verificar como se davam algumas dessas festas realizadas pelos DA's. Para que tivéssemos uma menor margem de erro e maior nível de precisão em nossas análises, fomos, exatamente, a 35 dessas festas. Além disso, passamos duas semanas freqüentando seus espaços físicos participando de suas atividade recreativas, tais como sinuca, truco, rodas de violão e outras. Ao fim, concluímos que os diretórios deveriam ter sua existência extinta, pois promovem a imoralidade e contrastam com os bons costumes pregados pelo Mackenzie. No entanto, devido ao seu valoroso papel de promotores da educação, realizado pelo serviço de fotocópia, ou seja, de disseminação e democratização do conhecimento, eles merecem uma segunda chance, obviamente, uma vez que se adaptem às medidas que forem tomadas para corrigir essa distorção.

Tendo em vista a atitude de seus universitários, a Universidade Presbiteriana Mackenzie resolveu lançar um guia para que eles encontrem o bom caminho. Intitulado de “Os Dez Mandamentos Mackenzistas”, o documento sagrado têm o seguinte conteúdo:

1) Não cobiçarás o croissant alheio
2) Guardarás o período de aula para o estudo
3) Não faltarás nem pedirás bolsa em vão
4) Honrarás a sua mensalidade
5) Não pegarás mais de duas dependências por semestre
6) Comparecerás sempre ao Dia do Mackenzie Voluntário
7) Não incomodarás os professores com e-mails
8) Praticarás sempre Educação Física
9) Não jogarás truco na universidade
10) Não violarás os firewalls do prédio 10

É bom saber que o Mackenzie está sempre antenado com o que acontece na universidade e toma sempre boas medidas a respeito do que quer que seja.