14 de novembro de 2006

Indignação!

Uma das coisas mais indignantes do mundo é a subsistência humana. Digo isso ao passar pelas ruas de São Paulo e ver um morador de rua vasculhando vorazmente uma lata de lixo à procura de algo que lhe fosse útil.

Eu não imagino como pessoas assim sobrevivem. Porque mais do que viver, elas sobrevivem uma semi-vida. São indivíduos marginalizados pela sociedade. Sobras humanas que não parecem merecer outro lugar que não o dos restos: o lixo.

De certa forma, é até compreensível que tais seres humanos sejam vistos com desconfiança. Seria muito bom se cada um de nós adotássemos um morador de rua e lhe déssemos caminhos e chances para uma vida digna. Mas já estamos ocupados em tentar tornar a nossa vida digna, não sobra tempo para que assumamos compromisso com alguém desconhecido, que deixemos um estranho entrar em nossas casas. Afinal, por mais bem intencionados que sejam, eles não são cidadãos sob os olhos da lei, não têm identidade nem certidão, não têm um lar, um emprego, uma família, um sustento, porque não pagam imposto; mas nem têm dinheiro. São seres que não existem, são seres que não são.

Se viver do nosso jeito já é difícil, imagine viver como eles. Realmente me toca o coração ao ver seres humanos retrocedendo à mais bruta forma primitiva. Às vezes, as pessoas não compreendem que por trás daqueles olhos tristes e vazios, daquela pele dura, daquelas unhas sujas, daquele mau cheiro, sob aqueles panos encardidos, está um ser humano como qualquer outro, se não fosse o fato de ter sido esquecido por todos. São vistos como meros ornamentos indesejáveis das grandes metrópoles.

Faço questão de enfatizar que são seres humanos, seres pensantes, que pensam como eu e você, que sabem, como eu e você, que são vítimas de uma sociedade canibalista. Um deles poderia muito bem ser um pai de família, uma ex-executiva de sucesso, um brilhante estudante que por forças do destino acabou entregue a vontade do tempo. E você, pai de família, executiva bem sucedida, estudante exemplar, pode ser um deles amanhã. Sofrer o mesmo sofrimento. Passar o mesmo frio, a mesma fome. Sentir as mesmas dores.

E dores não faltam para eles. São desprezados diariamente. Tratados com indiferença. Tiveram seu orgulho destruído, sua honra sucumbida, sua moral trucidada, sua esperança estilhaçada, e sua alma quase morta, já se encontra demolida. São vistos como indigentes, não com gente.

Mas por que pensar assim? Por que tanto ódio, tanta raiva, tanto desprezo com quem nunca nos fez mal? Eles não bebem porque são bêbados, bebem porque têm frio. Não se drogam porque são viciados, se drogam porque são forte. Sim, fortes e não fracos. Pois agüentar todos esses tormentos e passar por tantos desgostos, chorar por todos os cantos, e mesmo assim continuar na luta pela própria vida os torna mais fortes do qualquer um. Só não são mais fortes porque são vítimas de uma força maior do qualquer outra: a inércia de quem tem o poder de mudar, a inação dos governantes.

A responsabilidade de poder mudar não é nada se a vontade de querer mudar não vem junto. Espero um dia em que eu possa, eu mesmo, mudar essa situação. Não sei se é só um sonho, mas como jornalista profissional espero conseguir mudar essas situação, fazer a diferença, mudar o que é ruim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário