21 de novembro de 2006

Desabafos desvairados 2

Acredito que todos já saíram para beber com os amigos, se divertir e confraternizar. Imagino também, que todos já passaram por aquela situação em que um desses amigos bebeu um pouco mais do que o recomendável, não bebeu com parcimônia. Mas duvido que alguém já tenha visto um ser humano tão bêbado quanto o que eu vi há uns dias.

Ele estava muito bêbado, mas muito bêbado mesmo. É aquele tipo de cara que acha que álcool é oxigênio: se parar de beber, morre. Ainda bem que a gente saiu do bar de madrugada, porque se tivéssemos saído à luz do sol, o cara ia entrar em combustão instantânea com certeza, seria flambado em plena avenida. Sabe quando você vai num restaurante e pede de sobremesa frutas flambadas? Então, iria acontecer o mesmo com ele. Pelo menos seria um jeito elegante e sofisticado de ser queimado. Seria menos doloroso do que ter que ouvir o que ele provavelmente ouviu quando chegou em casa.

Bom, vai chegando o final do ano e conseqüentemente chega o tradicional amigo secreto, uma brincadeira divertida que serve para fortalecer amizades, mas que tem lá seus problemas eventuais. Já começa no sorteio que precisa ser feito, em média, entre 20 e 35 vezes. As probabilidades aumentam à medida que o grupo de participantes é maior. Sempre tem aquele que tira a si próprio, ou então alguém cisma que os papéis estão marcados. Isso acontece normalmente quando a pessoa tira alguém que ela não gostou. E o pior é que você sempre tira alguém que você não gosta, nunca conversa ou então nem conhece.

Passado o sorteio, vem a hora de comprar o presente que só não é pior do a hora de receber. Nessa hora vem um monte de dúvidas: você não sabe o que comprar, tudo o que você acha legal tem preço acima do limite, daí você não quer comprar presente acima do limite com medo de receber algo que pareça ter sido reciclado, etc.

Uma vez superada essa parte, vem a tão temida festa da entrega. Você já entra no local reparando no tamanho dos embrulhos, torcendo para que o seu não seja o menor. A essa altura o amigo já não é mais secreto, tudo mundo sabe quem tirou todo mundo e o que fulano vai da para ciclano. Chega a hora da pessoa que te tirou ir à frente e revelar quem é o amigo secreto dela. Descobrem que é você. Então você vai lá, dá um abraço na pessoa, abre o presente e aí que vem a bomba: você acabou de ganhar uma agenda! Quem, em sã consciência, dá uma agenda de presente? Que diabos eu vou fazer com uma agenda? Não é só porque é final de ano e o calendário vai mudar que eu quero uma maldita agenda. Uma agenda eu compro na banca jornal, no supermercado, eu acho na rua. Daí a pessoa fala “é simples, mas é de coração”. O cacete que é do coração! Aposto que o individuo participou de um outro amigo secreto anteriormente, ganhou a mesma agenda, e resolveu repassar o “presente de coração”.

Por essas e outras que amigo secreto é um jogo perigoso. Aliás, o amigo secreto já invadiu o ano todo né. Na Páscoa tem “amigo chocolate”, no Dia das Bruxas tem “inimigo secreto”. Não duvido nada que no Natal criem o “amigo partes do peru”, ou então, “amigo nozes, castanhas, frutas secas, pistache e semelhante”. Para não perder o embalo, emenda-se na virada do ano o “amigo lentilha e outros grãos”. Daí acaba o ano, os feriados, mas só até o Carnaval, que é quando acontece o “amigo confetes e serpentinas”. No meio do ano, em meio à Festa Junina, celebra-se o “amigo derivados do milho”.

É espantoso como o ser humano gosta de ganhar presentes, especialmente as mulheres. Elas têm o chá de bebê, o chá de panela e agora também o chá de lingerie. Tudo para ganharem presentes. Que interesseiras! Daí vão criar o “chá de laticínios” quando fizerem a primeira amamentação, quando entrarem na menopausa vai vir o “chá de toalhinha e antitérmicos”, e assim por diante.

Antes que eu me decepcione ainda mais com a raça humana, e comece a gostar mais do meu cachorro, ir-me-ei. Ah, que felicidade! Eu sempre quis usar mesóclise num texto, mas nunca tive a oportunidade; finalmente um sonho que se realiza.

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