16 de setembro de 2007

A ordem do discurso

Semana passada eu tive que fazer um trabalho sobre Michel Foucault e seu livro, “A Ordem do Discurso”. Apesar das dificuldades, pois é um texto extremamente complexo e que requer várias leituras igualmente minuciosas, eu achei que seria uma boa idéia expor a explicação do texto aqui para que vocês leitores tivessem acesso a um tipo de informação extremamente valiosa.

A Ordem do Discurso é uma publicação baseada na aula inaugural de Foucault no Collége de France. Nela, Foucault fala da relação entre discurso e poder.

É controlando os nossos discursos que as instituições mantêm o poder. Assim, há diversas formas de controle ou de exclusão do discurso. São excluídos aqueles que vão contra a ordem vigente. Foucault fala de dois tipos de controle do discurso: os externos e os internos.

As formas de controle externo do discurso, Foucault chama de sistemas de exclusão. São procedimentos que impedem a criação do discurso, embora não seu pensamento. Você pode pensar um discurso, mas não pode pronunciá-lo. São três os sistemas de exclusão:

1) Interdições: A interdição: Foucault fala especificamente de três tipos de interdições (embora suas formas possam ser as mais variadas): tabu do objeto, ritual da circunstância e direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala.

a. a palavra proibida ou tabu do objeto: há certas coisas, há determinados assuntos dos quais não podemos falar, que não podem entrar em nosso discurso. Dentre esses assuntos, os dois principais são a sexualidade e a política.
b. ritual da circunstância: há determinados discursos que só podem ser anunciados em determinadas ocasiões.
c. direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala: há determinados discursos que só podem ser proferidos por determinados sujeitos.

Todas essas barreiras, essas interdições, acabam por tolher a potencialidade do discurso, logo, o seu poder. É a velha história: você nunca pode dizer o que quiser, quando quiser e como bem entender. Ou então: quem fala o que não quer, ouve o que não quer.

2) Oposição entre razão e loucura: Se eu digo o que é proibido ou contrario alguma das interdições eu sou taxado de louco. Segundo Foucault, “louco é aquele cujo discurso não circula como o dos outros”. Na História há vários exemplos disso, principalmente de cientistas que contrariavam as verdades estabelecidas de suas respectivas épocas. Mesmo se você estiver falando a verdade, seu discurso não vai ser aceito.

3) Vontade de verdade: Todo mundo quer que seu discurso seja aceito como verdade, pois isso é o mesmo que ter poder. O discurso nem precisa ser de fato verdadeiro; basta que ele seja passado como tal. Só que caso ele não seja aceito como verdadeiro, há o risco da exclusão, de ser taxado como louco. Sempre houve, e ainda há, em nossa cultura a noção de oposição entre certo e errado. Há uma verdade, e o resto não o é. “Essa divisão histórica deu sem dúvida a forma geral à nossa vontade de saber”.

Tendo isso em vista, nós não devemos olhar apenas a verdade, mas também, e principalmente, a vontade dessa verdade. Porque a verdade do discurso acaba sempre mascarando a sua vontade de verdade (devido ao apoio institucionalizado desta). Logo, nós ignoramos essa vontade de verdade como sendo “uma prodigiosa maquinaria destinada a excluir todos aqueles que procuraram contorná-la e recolocá-la em questão contra a verdade, lá justamente onde a verdade assume a tarefa de justificar a interdição e definir a loucura”.

Essas três formas de exclusão impedem que o indivíduo anuncie seu discurso (ou faça com que ele tema anunciá-lo). Eles “tendem a exercer sobre os outros discursos uma espécie de pressão e como que um poder de coerção”. Assim sendo, o discurso acaba se desenhando como uma forma de dominação. Um exemplo é o discurso jurídico, que usa uma linguagem excessivamente técnica e complicada. Isso faz com que o cidadão comum seja excluído desse campo discursivo e acabe como conseqüência lógica não brigando pelos seus direitos. No jornalismo também há isso, como o famoso “economês” usados nos cadernos de economia. Uma linguagem técnica que impede a compreensão do texto. São textos feitos para quem já entende do assunto, o que perpertua a concentração do poder, do discurso.

É importante lembrar que nenhum enunciado é neutro. Portanto, sempre desconfie de tudo o que você ler. O titulo, a imagem, cada uma das palavras, tudo possui um significado e não é escolhido à toa.

Quando o discurso pode ser dito, ele esbarra no que Foucault chama de “procedimentos de controle e delimitação do discurso”. Ou seja, os processos internos, que também são três.

1) O comentário: nós sempre estamos nos remetendo a outros discursos. Quase tudo o que falamos já foi dito uma outra vez, porém de forma diferente, com outras palavras. O comentário é repetir um discurso já existente. É o que eu estou fazendo aqui. Ao explicar Foucault para vocês eu acabo limitando o sentido do texto.

2) O autor: a individualidade do autor limita o sentido do discurso. Se for “O” cara que estiver falando, tudo bem; se for um outro qualquer aí o discurso deste tem menos valor, é menos poderoso.

3) A disciplina: são regras pertencentes a determinado campo do saber ou ciência às quais o discurso deve se adaptar para ter validade ou credibilidade. Foucault cita o exemplo de Mendel, que por muitos anos não teve suas teorias sobre a hereditariedade aceita, pois elas iam de encontro à visão da Biologia da época. Obviamente, essas regras podem mudar de acordo com o tempo e com o lugar. Elas são difíceis de mudar, porque dessa forma quem as domina pode controlar quem participa do discurso.

Enfim, tudo isso serve para mostrar a importância de como todo o discurso está “contaminado” de ideologia e de interesses, já que todo ser humano age de maneira interessada, de acordo com o que lhe é benéfico. Assim, precisamos perder a ingenuidade que costumamos ter ao lermos um jornal, ao vermos uma propaganda, etc.

8 de setembro de 2007

FILE

A oitava edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica desse ano foi uma das piores coisas que eu já vi na vida. Na última semana da exposição, tão comentada por sites, blogs e jornais, nem metade das 23 obras (se é que eram tudo isso!) estavam funcionando corretamente. Se no dia nove de setembro, último dia da exposição, houvesse pouco mais de dez em perfeitas condições eu não me espantaria. Uma completa falta de organização. Além disso, havia poucos monitores que pudessem auxiliar o público no entendimentos das obras.

Nota: 3

6 de setembro de 2007

A pergunta que não quer calar


Da série "Perguntas que não querem calar":
Seria um ursinho da Mattel?

2 de setembro de 2007

Desabafos desvairados 6

Depois de assistir ao trailer do filme "Duro de Matar 4" eu fiquei pensando sobre esses filmes de ação: como pode?

Como pode um cara estar num caminhão, o caminhão ser alvejado de tiros por um avião militar, e ele sair ileso, sem nenhum ferimento, apenas com leves manchas de graxa no rosto?

Como pode ele saber o exato momento em que o carro vai explodir, e então pular dele numa rua movimentadíssima sem ser atropelado? Será que todo mocinho tem algum tipo de poder premonitório?

Como pode o vilão nunca matar o refém, mesmo quando não precisa mais dele?

Como pode um simples ser humano vencer um robô, um extraterrestre ou qualquer outro tipo de criatura 10 vezes mais rápida, inteligente e forte que ele?

Como pode?